17 de mai. de 2010

Esconderijo

O que fazer das incontáveis mortes cotidianas, da qual esta sonhadora e nostálgica mulher não passa de alvo assinalado pelo X da sorte de todo o nó de solidão sufocante? E que mesmo diante da opressão, do saqueio e do abandono, responde com um sorriso tolo nos lábios da vida que explodirá em 30 no próximo dia vinte e dois.

Uma vida secreta que cozinha errante seus grãos e contagia com amor as imagens que vê refletida diante do espelho. Em cada linha escrita, decifro esse caminho com fortuna enquanto invento imagens de poesia com o brilho da luz dos olhos que já brilharam um dia. Trato de deixar em cada palavra dolorida o sumo do coração... da devoção e do deslumbre desmedido em escrever.

Que seja mais uma dessas lições com as quais o destino costuma nos surpreender e que nos " esfrega na cara” a nossa evidente condição de meros joguetes de um fado indecifrável cuja única e desoladora recompensa costuma ser, na maioria das vezes, o desprezo e o esquecimento. E já que é assim: que venha os trinta.

Assiti meu filme preferido A herança de Mr. Deeds, enquanto a música se repetia insistentemente: Procuro a solidão, como o ar procura o chão, como a chuva só desmancha pensamento sem razão. Procuro esconderijo encontro um novo abrigo como a arte do seu jeito e tudo faz sentido. Calma pra contar nos dedos, beijo pra ficar aqui, teto para desabar, você para construir.

14 de mai. de 2010

O convite

Ela o beijou. Seu beijo era um convite.
E ali mesmo, na sala, despiram-se com sofreguidão, com raiva e desejo. Acariciando-se um ao outro e desfazendo-se em silêncio de palavras doces e apaixonadas.
Conheciam de cór cada parte de seus corpos e enterraram todo aquele tempo de sofrimento e separação, em suor e saliva.
Ele a beijou com fúria, segurando-a docemente pelos cabelos num misto de fúria e cuidado. E ela o recebia de olhos abertos, com as pernas enlaçadas em seu corpo e os lábios entreabertos de ânsia e desejo infinitos. Não havia sinal de criancice em seu olhar, em seu corpo trêmulo que ainda pedia mais.
E em seu coração ela se perguntava se a felicidade seria apenas um produto de sua imaginação.

Mil velas podem ser acesas com uma única vela,
E a vela não será por isso, mais curta.
A felicidade nunca mingua por ser compartilhada.
Eu acho.

12 de mai. de 2010

Carta de amor

Há alguns anos, encontraram um saco cheio de cartas que haviam deixado de ser entregues aos seus devidos destinatários. Cartas que deveriam ter sido entregues há quase 70 anos atrás, o que pode-se dizer de quase uma eternidade, pensando em quem as esperou.

O diretor dos Correios teve de fazer declarações para conter o escândalo.

Ele disse uma enorme besteira: "ninguém precisa se preocupar, não havia entre elas nenhuma carta de amor".

"Eu não sou tão triste assim, é que hoje eu estou cansada" (Clarice Lispector)

10 de mai. de 2010

Tolerância

"Há um lugar onde termina a calçada
Antes de começar a rua
Ali cresce a relva clara e macia
Ali arde o sol quente e purpúreo
E ali dorme o passáro-da-lua
Depois de longa viagem
No vento de hortelã." (Shel Silverstein)

Vivo aproveitando esse tempo de descanso e paz.
Viajei demais e já corri muito também mas hoje eu vejo e contos os dias que passam devagar, fazendo de mim uma pessoa mais tolerante e paciente.


Porque a vida pede passagem. Que seja eterno e terno, enquanto dure.