15 de mar. de 2010

A impotência diante da perda

Esta seria apenas mais uma sexta-feira igual a todas as outras em sua vida, não fosse pelo pequeno detalhe de ter recebido uma ligação logo pela manhã, cujo assunto sem maiores delongas ou rodeios, é que seu pai havia falecido.
Ela acordara cedinho, tomara seu banho em silêncio enquanto orava baixinho pela saúde de seu pai. A oração sempre fora um hábito em sua vida e ultimamente ela orava em todos os lugares onde podia encontrar minutinhos de silêncio e tranquilidade. Seu pai estava internado em coma induzido havia quinze penosos e doloridos dias e desde então, só o que conseguia fazer era pedir a Deus que operasse um milagre. E depois do banho ela aprontou-se e passou correndo pela porta da cozinha em direção ao seu automóvel, enquanto tomava um iogurte de frutas mecanicamente, já que os alimentos em geral não tinham o mesmo sabor de outrora, em sua opinião.
Dirigiu em silêncio durante todo o percurso de sua casa até o trabalho, concentrando-se nos ruídos dos carros, no som que fazia lá fora, no barulho seco que fazia quando as pastilhas de freio seguravam com firmeza as rodas de seu carro, era como se esperasse alguma prova ou indício que aqueles eram os mesmos sons e ruídos de todos os dias, que tudo estava igual e em seu lugar e que por isso, tudo ficaria bem ao final.
Acomodara-se em sua mesa e dera início as suas atividades em seu trabalho, quando seu aparelho celular começou a vibrar e aquele instante pareceu durar uma eternidade. Ela imediatamente olhou para o numero que aparecia no visor do aparelho, sentindo como se uma imensa mão estivesse a lhe esmagar o estomado, a barriga, o coração tudo junto. Era sua mãe quem estava chamando do outro lado da linha, e em seu coração ela já sabia o que viria pela frente, mas não queria acreditar no que viria pela frente.
Queria que fosse sua mãe ligando para saber como ela estava e entre amenidades diversas, comentasse sobre o tempo, se estava fazendo frio ou calor ou contando alguma nova fofoca familiar... uma prima que engravidou ou a tia que resolvera se separar, coisas corriqueiras e comuns. Mas a ligação de sua mãe fora bastante curta e objetiva:
- Filha estou te ligando pra dizer que seu pai não resistiu... você sabe, ele estava sofrendo bastante e aquele imenso absurdo que todo mundo diz: foi melhor assim... traduzindo pra você que está lendo agora: SEU PAI FALECEU.
A pior coisa que se pode ouvir quando se perde alguém é aquela frase ... foi melhor assim. Melhor pra quem, eu gostaria de saber?
Além de se sentir impotente você ainda se sente burro por não ter descoberto antes que teria sido melhor que seu ente querido tivesse morrido logo no começo de sua enfermidade, que não perdesse tempo lutando pela vida, já que o melhor seria partir.
Só o que ela pensara naquele terrível instante era na saudade que já sentia do seu pai.
Ele tinha tantos planos, tantos sonhos ainda por realizar.
Seu pai era tão jovem.
Definitivamente, desapontara-se com Deus.

O que me atrapalha nesta vida é essa maniazinha de escrever.

Um comentário:

Rafiki Papio disse...

É assim, com essas coisas somos mesmo impotentes. As pessoas constumam dizer coisas tentando confortar as outras, tentando mostrar que compreendem o sentimento, mas eu não sei. Não sei dizer este tipo de coisa, não sei se compreendo também o que os outros sentem, cada um sabe só o que se passa em si, e o quão abundante é o rio de seus sentimentos.

Quando eu penso na morte( em geral eu não penso), parece-me algo tão surreal, como se tudo na verdade fosse imortal. Algumas pessoas procuram enxergar propósitos nisso, falam de destino ou sei lá o que. Eu acredito em alguma coisa, preciso acreditar também, mas às vezes não encontro sentindo algum.



Porque a vida pede passagem. Que seja eterno e terno, enquanto dure.