19 de jan. de 2010

Oração dos Apaixonados pela leitura

Senhor, Distancie de mim todos os livros ruins. Coloque-os bem no fundo da prateleira, e que as traças os corroam antes que minhas singelas mãos os toquem. Priva-me dos livros escritos sem qualquer sentimento pelo autor – amor, paixão, inveja, raiva ou até mesmo desprezo. Menos, é claro, daqueles autores geniais, que não ouso citá-los, para não cometer a blasfêmia de esquecer algum. Ó, estupendos escritores, quem garante que mesmo acometicos da ausência de sentimentos não tenham gerados suas melhores obras? Peço em misericórdia, o deleite dos melhores escritos, e que o dono daquele sebo de raridades seja meu melhor amigo, e me tente sempre, antes a mim do que a todos, com suas preciosidades. E se por acaso, o Senhor decidir me castigar pelo arroubo de egoísmo do meu pedido, peço humildemente apenas que não me cegue, e que mantenha a minha lucidez, para que eu possa garimpar pacientemente, os poucos bons livros entre os milhares comuns. Amém. By Rodrigo Araújo

15 de jan. de 2010

Pra Você Guardei o Amor - Nando Reis

Pra você guardei o amor
Que nunca soube dar
O amor que tive e vi sem me deixar
Sentir sem conseguir provar
Sem entregar
E repartir

Pra você guardei o amor

Que sempre quis mostrar
O amor que vive em mim vem visitar
Sorrir, vem colorir solar
Vem esquentar
E permitir

Quem acolher o que ele tem e traz

Quem entender o que ele diz
No giz do gesto o jeito pronto
Do piscar dos cílios
Que o convite do silêncio
Exibe em cada olhar

Guardei

Sem ter porque
Nem por razão
Ou coisa outra qualquer
Além de não saber como fazer
Pra ter um jeito meu de me mostrar


Achei
Vendo em você
E explicação
Nenhuma isso requer
Se o coração bater forte e arder
No fogo o gelo vai queimar

Pra você guardei o amor
Que aprendi vendo meus pais
O amor que tive e recebi
E hoje posso dar livre e feliz
Céu cheiro e ar na cor que arco-íris
Risca ao levitar

Vou nascer de novo
Lápis, edifício, tevere, ponte
Desenhar no seu quadril
Meus lábios beijam signos feito sinos
Trilho a infância, terço o berço
Do seu lar


Repeat no windows media player e no coração. Overdose de "Pra você guardei o amor", até enjoar e começar a soltar as letras, palavras e rimas todas pela boca, olhos e ouvidos. Até a alma roubar para si a doçura da melodia e da letra que aquece e entristece.

12 de jan. de 2010

Fragmento: A chama de uma vela:

"Assim se fala da lâmpada como se poderia falar da luz que alumia os caminhos e que nos fascina, a luz de uma vela, tendo esta também um duplo sentido, o de alumiar e de aquecer. O que nos fascinará tanto numa simples vela?!
O seu lado romântico, que herdamos dos nossos antepassados oitocentistas? A cor vibrante e dilacerante que encerra? O perigo que existe ao acendê-la e torná-la chama? O simples derreter da cera em seu redor que cria montanhas e estalactites que, de forma natural, não podemos criar? O alumiar do caminho? Uma forma de obter luz natural? O misticismo da vela...!!!!
Que vejo eu, tu e todos numa vela? É um fascinio. E a luz acessa,... num quarto escuro, ... em noite cerrada ..., fala-nos de solidão. Remete-nos para o nosso passado de histórias encantadas. Transporta-nos para um outro mundo, o da imaginação e olhando lá bem do fundo ficamos à espera que o sonhador noturno, ou desesperado diurno, apague a luz e vá descansar num sono profundo. (...)"

O autor nos faz imaginar a claridade de uma única vela, acesa num quarto escuro, enquanto aborda delicadamente sobre a solidão. Também fala do calor, da chama... da paixão.
Fala de tanta coisa e ao mesmo tempo de algo tão simples como a chama de uma vela.

8 de jan. de 2010

A sombra do vento de Carlos Ruiz Zafón.

Existem livros que fazem sonhar, que são um presente para a fantasia.
Quando alguém lê um livro como esse, sente-se bem, não quer ser incomodado por nada nem por ninguém, e deseja apenas mergulhar no mundo dos personagens. A Sombra do Vento é um presente assim.

Pelos olhos de um menino, o leitor é apresentado ao mundo dos livros.
Os personagens ficam tão vivos em nossa memória que mesmo depois de te-lo lido, pode ser que ao cruzar com "algum tipo diferente", você acredite e jure de pés juntos que viu um dos personagens andando por aí.
Foi assim comigo outro dia, que poderia jurar ter cruzado com o Senhor Júlian Carax no semáforo da cidade em que vivo, em plena luz do dia.

Ao ler A Sombra do Vento, o desejo que se tem é de, assim como o menino Daniel, abrir as portas do Cemitério dos Livros Esquecidos e descobrir em seus infindáveis corredores o livro que mudará nossas vidas.

E pensando em mudar de vida, começo pra valer hoje a leitura do romance Trem noturno para Lisboa, que ganhei de presente de um amigo querido. Esse livro fez tanto sucesso na Europa que passou a ser uma expressão utilizada para referir-se a alguém que pretende mudar de vida.

Se você está cansado da sua vida, do jeito como ela é e/ou busca novos horizontes, nem que seja apenas na sua forma de pensar, embarque nesse trem comigo e vamos juntos para Lisboa.
“Nós existimos enquanto alguém se lembra de nós.” (Carlos Ruiz Zafón)

5 de jan. de 2010

Dois mil e dez

Chegou 2010 e nota-se que o que mudara na verdade foram alguns números nos calendários, nas folhas das agendas e na assinatura das folhas de cheques.
O restante parece sempre o mesmo.
A maldade do mundo. As tragédias que nos acometem... a chuva que arrasa ou do medo que paralisa e prende. O açucar amargo que envolve as metas e os objetivos que nos impulsionam a abraçar com garra e paixão as obrigações rotineiras e por vezes cansativas que nos acompanham (trabalho, estudo e o contexto social).

As exigências são cada vez maiores e os recursos no entanto, menores.
A excassez gera a necessidade que fazer nascer os desejos.
Desejos de todo tipo... do consumo desmedido, das informações que não trazem o conhecimento, de poesias que não emocionam e de sonhos impossíveis.

Não há tempo para pregar os olhos.
O necessário de hoje já foi supérfluo um dia e o caráter que nos falta hoje é pura besteira.

Se pudesse iria embora... quem sabe fosse ver o mar, ler um romance envolvente.
Se pudesse contaria que o céu é um mar que chove. Chove triste e cansado. Murchinho.
Mas ainda tenho sonhos enroscados como cabelos em minha garganta.
Há muito tempo que a humanidade não acredita em sonhos e há muito eu não acredito na humanidade.

"Na minha opinião
existem dois tipos de viajantes:
os que viajam para fugir

e os que viajam para buscar" (Érico Veríssimo)


Porque a vida pede passagem. Que seja eterno e terno, enquanto dure.