28 de abr. de 2010

Relatividade

É relativo
Tudo é relativo e depende de você.
As coisas mudam com a sua imaginação.
Acertar varia com a forma de errar.
Estar de bem com a vida é relativo, isso também pode mudar.

É sábio cativar uma grande amizade, é relativo encontrar.
Viver é relativo, envelhecer, também.
Tristeza, nem pensar, depende de como interpretar.
Transformar momentos inesquecíveis é relativo, de tudo depende a forma de amar.


" No nosso idioma, as pequenas gentilezas,
como empurrar a cadeira para sentar ou amarrar os cadarços um do outro, já são suficientes para nunca esquecer os dias. '' (Fabrício Carpinejar)

26 de abr. de 2010

A viagem

Dera a partida em seu carro e saiu, como se quisesse agarrar o instante em seus dedos, com receio de que ele nunca mais pudesse ser seu. Por mais que pisasse com raiva o pedal do acelerador do seu automóvel, ele não conseguia acompanhar a velocidade de seus pensamentos que exigiam para si, instantes cada vez mais completos. Seus pensamentos, seus valores e sua concepção de vida cheia de nausea doce, a aprisionavam.

Seguia sem rumo pela estrada, sem saber o que estava buscando... por ora bastava saber que partira, embora não soubesse ainda para onde, o destino seria outro problema que ela resolveria depois.

Sentia a pressão fresca e fascinante do vento e nesse instante desejou ser pássaro. O calor fazia com que escorrece o suor entre os dois seios e o brilho do sol ardia em seus olhos. A vastidão da estrada sem fim parecia acalmá-la, regulava a sua respiração e ela finalmente cochilava dentro de si.

Lembrou de sua infância, de pessoas importantes que ficaram para trás e seguramente concluiu que ser gente grande era deveras complicado... talvez estivesse apenas com medo, porque não resolvera o caminho que iria tomar. De repente se lembrou que os desejos são fantasmas que se diluem imediatamente quando o bom senso entra em ação, então mais que depressa, pegou o primeiro retorno da estrada com um único destino: voltar para casa.

Já em sua cama, fica de olhos abertos durante algum tempo.
O sono demora para vir. Ela medita enquanto enxuga as lágrimas que descem de mansinha, com o dorso de suas mãos. Cobre-se com o lençol macio e lisinho que escorrega pelo seu corpo nu. E finalmente ajeita-se na cama. Fecha os olhos e diz boa noite ao céu de estrelas que ri baixinho de suas tolices.

20 de abr. de 2010

Júlia sonha com o amor

Impossível dormir nesse ônibus, impossível... dizia Julia para si mesma, enquanto contava e recontava por diversas vezes as estrelinhas ou seriam florzinhas? Bom tanto faz o que eram na íntegra aqueles “trequinhos” estampados numa mochila qualquer que estava bem atrás da imensa cabeça do garoto que estava na sua frente falando sem parar. E cá entre nós... os “trequinhos” eram de fato, bem mais interessantes.

Há pelo menos 2 meses, Julia fazia esse mesmo percurso, ouvindo as mesmas conversinhas sem conteúdo que saiam daquela mesma boca que “andava louca” para devorá-la ao menor descuido que desse. O garoto que insistia em sentar ao seu lado, definitivamente não tinha o menor semancol, porque desde o momento que Julia adentrara naquele fretado com destino a tão sonhada Universidade, era ao seu lado que ele se sentava. E olha que ela nem disfarçava, por vezes demonstrando mais interesse aos “trequinhos” do que a sua conversa repetitiva e irritante.

O garoto que há dias sonhava em conquistar Julia era realmente dotado de uma tremenda força de vontade, porque quando ela finalmente o convencia de que estava cansada e que gostaria de aproveitar a viagem para dormir, ele imediatamente sacava seu cd player da mochila, recheado de musicas melas cuecas para irem ouvindo, cada qual com um lado do fone. E assim, a viagem seguia. E enquanto ele tecia um novo plano onde ela não escaparia dessa vez, Julia conversava baixinho com as estrelas... dizia a elas que colocassem em seu caminho um certo alguém que fizesse seu corpo todo tremer e sua boca secar... em seu coração de menina mulher cabiam muitos sonhos e fantasias.

Ultimamente Julia andava desconfiando que o fio daquele fone estava com sérios problemas, pois a cada dia parecia estar menor, o que`casualmente´ fazia com que o rosto do Gato Guerreiro –- pasmem, pois esse era mesmo o apelido do garoto -- ficasse mais próximo do seu.

"Poucos ainda sorriem e olham nos olhos (...)
Os olhos buscam signos, avisos, o coração resiste (até quando?)
e o rosto se banha de estrelas dormidas de ontem..."
(Caio Fernando Abreu)

14 de abr. de 2010

Cor de lume

Tenho feito um pouco de tudo e muito de nada. Nesses últimos dias tenho evitado olhar para o teclado, evitado escrever, evitado deixar a minha mente ociosa, porque há momentos em que parece não existir razão para viver e tenho medo das coisas que posso escrever nessas horas.
Absolutamente nada parece estancar o vazio que transborda por aqui. Coisas da minha eterna companheira solidão... vai passar, é só ter um pouco de paciência. Volto assim que eu estiver mais feliz, pra falar de coisas boas e bonitas. Acho que estou com cor de lume hoje.

E pra você, fica um trechinho doce de um livro que li recentemente: “Mudava a cor de seus olhos conforme o meu estado de ânimo: cor de água de despertar, cor de açúcar queimado quando ria, cor de lume quando a contrariava. E a vestia para a idade e a condição que convinham às minhas mudanças de humor: noviça apaixonada aos vinte anos, puta de salão aos quarenta, rainha da Babilônia aos setenta, santa aos cem.” Memória de minhas putas tristes – Gabriel García Márquez

1 de abr. de 2010

A TODOS, UM BRINDE! By Rodrigo Araújo

Ao ler a última página daquele livro, uma imensa calma apossou-se de mim. Em verdade, sentia-me confortado, assim como conforta uma xícara de erva-doce antes de dormir, ou um copo de leite quente ao amanhecer. Ao posicioná-lo na estante, junto aos seus semelhantes, foi como se um ritual houvesse terminado. Aquele livro concluía seu ciclo; uma jornada cujo único objetivo foi me proporcionar imenso prazer. Ali, enfileirado com outros livros, apresentava-se como parte de uma muralha de conhecimentos, sentimentos, emoções e divertimento. Imponentes e intransponíveis, tal como a muralha de Tróia, fizeram-me lembrar de minha pequena saga de páginas lidas e percorridas até aquele momento. Nelas, não consegui impedir a crucificação de Jesus Cristo, mas lutei ao lado de Leônidas, entre os espartanos. Defendi o Lugar da Verdade, unido à Nefer e Paneb; derrotei seres mitológicos, acompanhado do meu amigo Percy Jackson, e batalhei ao lado de Anjos, me sentindo o Senhor da Chuva. Entre outras aventuras, subi o morro como bandido, na obra de Caco Barcellos, e até como mocinho, em Elite da Tropa. Fui leão-de-chácara, pequeno guerrilheiro, terrorista, opressor e oprimido. Fugi de conspirações, graças a Joel Backman, senti a dor dos inocentes de 72 em Munique. Não consegui impedir a morte de PC Farias, nem o 11 de setembro. Acreditei no sonho de Che na América Latina, de Malcolm X na America Saxônica, e acompanhei a imprudência do Capitão Rodrigo, no sul do meu país. Como nem tudo é guerra, cantei com Tim Maia, tive cóleras de amor, ao ler Arnaldo Jabor; apaixonei-me aos 90 anos, e me deliciei com o pecado da gula. Repudiei os humanos, assim como Asimov, e amei um cachorro, como se Marley fosse meu. Tive amigos, fui executivo, deficiente físico, estive por um fio. Fui preso, conquistador, político. Vivi intensamente e transcendi o nosso cosmos. Nesse pequeno instante, em que revivi as memórias dos livros lidos, me senti como um cavalheiro na Idade Média. Não o maior, ou o melhor, porque muitos outros vivenciaram um Universo a mais que eu. Mas este era meu momento. Entrei pela porta principal do castelo. A espada embainhada, a face suada, um sorriso no rosto. Em tapete vermelho conduzia-me ao átrio central, onde todos os 278 amigos, destes, 62 digníssimos seguidores me esperavam. Prostei-me triunfante no centro do salão. Com a mão direita, ergui a taça. Gesto acompanhado por todos. - Três vivas as primeiras 10.000 páginas lidas! O salão ecoou: URRA!!! URRA!! URRA!!! By Rodrigo Araújo

Como já devem ter notado, sou fã de carteirinha dos textos do Rodrigo Araújo. Esse já o terceiro texto dele que divulgo aqui. Engraçado, mas é exatamente assim que me sinto quando estou lendo, vai ver que é por isso que eu adoro ler livros com personagens inteligentes, misteriosos, cheios de humor sagaz, porque invariavelmente acabo me sentindo como se fosse um deles. Isso torna ainda mais fascinante e viciante o mundo da leitura, porque nos transporta para lugares nunca imaginados, situações inusitadas e inéditas, nos coloca no lugar do outro, nos pemite refletir, sonhar... confere-nos a deliciosa sensação de viver algo que talvez, em nossa realidade corriqueira e rotineira, jamais teríamos a oportunidade de viver.
Rodrigo, você consegue colocar no papel com perfeição a emoção que o universo da leitura pode nos trazer. Parabéns!!!


Porque a vida pede passagem. Que seja eterno e terno, enquanto dure.