1 de abr. de 2010

A TODOS, UM BRINDE! By Rodrigo Araújo

Ao ler a última página daquele livro, uma imensa calma apossou-se de mim. Em verdade, sentia-me confortado, assim como conforta uma xícara de erva-doce antes de dormir, ou um copo de leite quente ao amanhecer. Ao posicioná-lo na estante, junto aos seus semelhantes, foi como se um ritual houvesse terminado. Aquele livro concluía seu ciclo; uma jornada cujo único objetivo foi me proporcionar imenso prazer. Ali, enfileirado com outros livros, apresentava-se como parte de uma muralha de conhecimentos, sentimentos, emoções e divertimento. Imponentes e intransponíveis, tal como a muralha de Tróia, fizeram-me lembrar de minha pequena saga de páginas lidas e percorridas até aquele momento. Nelas, não consegui impedir a crucificação de Jesus Cristo, mas lutei ao lado de Leônidas, entre os espartanos. Defendi o Lugar da Verdade, unido à Nefer e Paneb; derrotei seres mitológicos, acompanhado do meu amigo Percy Jackson, e batalhei ao lado de Anjos, me sentindo o Senhor da Chuva. Entre outras aventuras, subi o morro como bandido, na obra de Caco Barcellos, e até como mocinho, em Elite da Tropa. Fui leão-de-chácara, pequeno guerrilheiro, terrorista, opressor e oprimido. Fugi de conspirações, graças a Joel Backman, senti a dor dos inocentes de 72 em Munique. Não consegui impedir a morte de PC Farias, nem o 11 de setembro. Acreditei no sonho de Che na América Latina, de Malcolm X na America Saxônica, e acompanhei a imprudência do Capitão Rodrigo, no sul do meu país. Como nem tudo é guerra, cantei com Tim Maia, tive cóleras de amor, ao ler Arnaldo Jabor; apaixonei-me aos 90 anos, e me deliciei com o pecado da gula. Repudiei os humanos, assim como Asimov, e amei um cachorro, como se Marley fosse meu. Tive amigos, fui executivo, deficiente físico, estive por um fio. Fui preso, conquistador, político. Vivi intensamente e transcendi o nosso cosmos. Nesse pequeno instante, em que revivi as memórias dos livros lidos, me senti como um cavalheiro na Idade Média. Não o maior, ou o melhor, porque muitos outros vivenciaram um Universo a mais que eu. Mas este era meu momento. Entrei pela porta principal do castelo. A espada embainhada, a face suada, um sorriso no rosto. Em tapete vermelho conduzia-me ao átrio central, onde todos os 278 amigos, destes, 62 digníssimos seguidores me esperavam. Prostei-me triunfante no centro do salão. Com a mão direita, ergui a taça. Gesto acompanhado por todos. - Três vivas as primeiras 10.000 páginas lidas! O salão ecoou: URRA!!! URRA!! URRA!!! By Rodrigo Araújo

Como já devem ter notado, sou fã de carteirinha dos textos do Rodrigo Araújo. Esse já o terceiro texto dele que divulgo aqui. Engraçado, mas é exatamente assim que me sinto quando estou lendo, vai ver que é por isso que eu adoro ler livros com personagens inteligentes, misteriosos, cheios de humor sagaz, porque invariavelmente acabo me sentindo como se fosse um deles. Isso torna ainda mais fascinante e viciante o mundo da leitura, porque nos transporta para lugares nunca imaginados, situações inusitadas e inéditas, nos coloca no lugar do outro, nos pemite refletir, sonhar... confere-nos a deliciosa sensação de viver algo que talvez, em nossa realidade corriqueira e rotineira, jamais teríamos a oportunidade de viver.
Rodrigo, você consegue colocar no papel com perfeição a emoção que o universo da leitura pode nos trazer. Parabéns!!!

Um comentário:

Rafiki Papio disse...

Um brinde ao rapaz!

Quando eu termino um livro sou invadido de saudade, como uma despedida.



Porque a vida pede passagem. Que seja eterno e terno, enquanto dure.