Dera a partida em seu carro e saiu, como se quisesse agarrar o instante em seus dedos, com receio de que ele nunca mais pudesse ser seu. Por mais que pisasse com raiva o pedal do acelerador do seu automóvel, ele não conseguia acompanhar a velocidade de seus pensamentos que exigiam para si, instantes cada vez mais completos. Seus pensamentos, seus valores e sua concepção de vida cheia de náusea doce a aprisionavam.
Seguia sem rumo pela estrada, sem saber o que estava buscando... por ora bastava saber que partira, embora não soubesse ainda para onde, o destino seria outro problema que ela resolveria depois.
Sentia a pressão fresca e fascinante do vento e nesse instante desejou ser pássaro. O calor fazia com que escorresse o suor entre os seios e o brilho do sol ardia em seus olhos. A vastidão da estrada sem fim parecia acalmá-la, regulava a sua respiração e ela finalmente cochilava dentro de si.
Lembrou de sua infância, de pessoas importantes que ficaram para trás e seguramente concluiu que ser gente grande era muito complicado... talvez estivesse apenas com medo, porque não resolvera o caminho que iria tomar. De repente se lembrou que os desejos são fantasmas que se diluem imediatamente quando o bom senso entra em ação, então mais que depressa, pegou o primeiro retorno da estrada com um único destino: voltar para casa.
Já em sua cama, fica de olhos abertos durante algum tempo.
O sono demora para vir. Ela medita enquanto enxuga as lágrimas que descem de mansinha, com o dorso de suas mãos. Cobre-se com o lençol macio e lisinho que escorrega pelo seu corpo nu. E finalmente ajeita-se na cama.
Fecha os olhos e diz boa noite ao céu de estrelas que ri baixinho de suas tolices.
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